quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

sou um livro

sou um livro.
gosto de páginas esbeltas,
palavras bem escritas,
parágrafos bem costurados,
linhas em branco pra preencher.

na edição de luxo tenho sobrecapa,
pantone especial,
costura colorida.

na edição comercial,
meu papel pólen é 75g/m3,
só uma cor,
nada de sobrecapa.

tudo o que gosto está em um livro bom:
página, palavra e espaço.

página pra ver e tocar, palavra pra ler e imaginar, espaço pra deixar preencher.

um livro e uma música

eu gosto muito de ler. talvez seja uma das coisas que eu mais goste de fazer. eu gosto dessa puxada que o livro nos dá prum espaço-tempo que não faz sentido algum com o que a gente realmente está. desse mergulho que a gente esquece até que tem que descer no próximo ponto e levanta atrapalhada, derrubando a sacola e pedindo licença no último minuto. e eu ainda tenho uma mania desgraçada que é de juntar o livro quase sempre com uma música ou álbum. depois de acabar o livro, quando tento ouvir a música só pela música não consigo, ficam os personagens dançando ali na frente, bagunçando todo o sentido original da música.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

sobre a independência



A independência também é uma ilusão e um fardo. Nunca seremos totalmente independentes porque sempre estaremos acorrentados às pessoas que nos fazem bem e que precisamos ao nosso lado ou à empresa que paga o salário no final do mês ou ainda de alguém que produz o que a gente veste, come, vê, ouve, assiste.

A independência que a gente tenta tanto alcançar é, na verdade, uma tentativa de poder tomar as próprias decisões e pagar por elas com a consciência ou com o salário, sem que dependamos de quem nos dá alguma coisa e quer ver aquilo com algum fim. É poder escolher se você quer ser vegetariano, se você vai dormir cedo ou tarde, se o filme vai ter pipoca ou não. Mas também é poder escolher fugir dos problemas e de pessoas, se reconectar em outras e mover o barco para outros portos.

6 fatos aleatórios sobre os ônibus de Florianópolis

1. Ao perguntar para o motorista da linha Canasvieiras/Lagoa se o ônibus passava pela Praia Mole, o mesmo respondeu que não sabia o que era a Mole.

2. Outro dia, esperando o ônibus sair no horário fixado na coluna, 19:43, descobri pela tela que anuncia as próximas partidas, que lá o horário dele era 19:45.

3. Esperando o Santa Mônica sair no horário de sempre, 21:10, me peguei distraída lendo e quando vi o horário, 21:14, achei que ele já tinha saído, mas esperei até 21:20 quando ele realmente saiu - o porquê ainda não sei da demora.

4. Mudaram motoristas e cobradores de linhas e estes às vezes não sabem nem o percurso do ônibus.

5. Mudaram duas vezes a plataforma que o Santo Antônio fica, no TICEN, e se irritam quando perguntamos onde está o diabo do ônibus porque não vimos entre as propagandas os banners avisando claramente.

6. Até pouco tempo atrás, o cartão de estudante não passava em domingos e feriados, porque obviamente estudante só é estudante e tem direito em dias úteis ou sábados.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

estaremos enviando um técnico para desentupir seu encanamento, senhora

Eu liguei pra agendar um técnico pra desentupir o encanamento ou o ralo do banheiro ou tudo porque reformaram meu apartamento e fizeram de um jeito que já vi brócolis que entrou pelo ralo da pia da cozinha e foi parar no box do banheiro. Desde terça as mocinhas que avisam que o que tá no sistema é isso, senhora e que a base informou que não vai poder estar fazendo o procedimento neste horário, senhora e que precisa ter alguém em casa, senhora, senão não podemos concluir seu atendimento com sucesso, senhora estão reagendando o atendimento com uma máquina que a grafia desconheço mas lê-se róto-ruter para melhor te atender, senhora. Ligo e digo que o atendente está atrasado e a mocinha nº 239 (deve ter sido a 5ª com que falei já) diz que ele teve contratempos e não pode chegar no local, senhora, mas que em cerca de 20min ele estará aí para melhor lhe atender, senhora. Não, eu não posso esperar mais. Reagendamos para o final do dia, senhora, confirmado das 19h às 21h, senhora? Falta meia hora pras 19h e recebo uma mensagem dizendo que seu pedido foi agendado para o próximo dia das 13h às 18h, senhora. Ligo para falar com mais uma mocinha nº 779 que diz que como eles precisam usar a róto-ruter o atendimento precisa ser feito durante o dia, senhora e que se você trabalha e mora sozinha, senhora, precisa disponibilizar alguém para atender o técnico, senhora, porque ele precisa que alguém esteja em casa, senhora. Ok, então pode ser na quinta-feira das 16h às 18h? Sim, senhora, confirmado seu atendimento, senhora.

São 15h de quinta-feira e mais uma mocinha nº 834 da lista de mocinhas liga perguntando se estou em casa porque há um técnico próximo da minha casa e que poderia estar realizando o procedimento de desentupimento do ralo do seu banheiro social em cerca de 10min, senhora. Não estou em casa, então o procedimento fica no horário marcado das 16h às 18h, senhora. Passam 10min e mais uma mocinha nº345 (que eu já não tenho certeza se já falei com ou não) me liga porque estaremos reagendando seu atendimento para amanhã de manhã porque a máquina que seria utilizada está com problema, senhora. (vocês tão acompanhando? em 10min a máquina ESTRAGOU) Olha, mocinha nº 345 infelizmente não, não será reagendado porque eu nãoaguentomais e nãomeimporta se vai commáquina ou semmáquina eu quero alguém naquele apartamento para desentupir aquele ralo H O J E. Ho-je. Hoje. Dá um jeito que eu não vou esperar até amanhã. Se tu disser que vai ser reagendado eu saio daqui direto para o procon. Ou pra imobiliária. Tudo bem senhora vou estar entrando em contato com a base para ver se existe a disponibilidade de blawhiskasache hoje, senhora. A ligação cai. Ligo de novo, falo toda a ladainha de novo. Grito de novo com a mocinha nº 678. Ela diz que tem uma base que é mais longe da minha casa com o maquinário necessário, senhora, ele deve chegar em 50min na sua casa, senhora. Ok.

No ônibus, a mocinha nº 528 liga para informar que sim, vai um técnico lá em casa porém não vai conseguir chegar às 16h mas me garantiu que até as 18h sim, ele estaria lá. Não to entendendo porque tu tá me ligando, mocinha, mas ok. Eu posso esperar, tô desde terça-feira 8h esperando mesmo. A seguradora pede desculpas via mocinha nº 528 e agradece a compreensão. Eu não compreendi porra nenhuma, mas vamos em frente. Obrigada, mocinha. Mais uns minutos e a mocinha nº 47 me liga pra informar que o técnico está na sua casa para o atendimento das 16h às 18h senhora, mas a senhora não está no local. Eu tô chegando em 5min, mocinha. O mocinho nº 34 não possui maquinário algum, só uma mangueira esquisita de metal que parece um chuveirinho de chuveiro a gás. Ele constata pela 2ª vez que sim, precisamos dum maquinário para limpar o encanamento. Ligo para a seguradora pela milésima vez do dia. A mocinha nº 893 diz que está confirmado o atendimento mas que ela ligou para a base e a base que vai prestar o serviço informou que não vai conseguir cumpri o horário e reagendou o procedimento, senhora, das 18h às 20h senhora. Ela entra em contato com a base novamente e a ligação cai. Ligo, ouço minutos de musiquinhas clássicas em versões quase binárias e consigo falar com a mocinha de nº 134 que me informa que está confirmado o atendimento agendado senhora das 18h às 20h com o uso de um maquinário senhora. (vocês continuam aqui? agora pode usar o maquinário depois das 18h, antes não podia? prossigamos)

São 18:30 e a mocinha nº 65 me liga para informar que o técnico está com o maquinário mas que ele cobra um valor que excede o suposto valor que eu tenho coberto pela seguradora. Peço desculpas, não quero ser mal-educada, mas eu não sei se eu ligo pro procon, pra polícia, pra imobiliária ou mando vocês tomarem no cu. A mocinha nº 65 pede desculpas, ouve toda a novela acima supracitada e diz que vai entrar em contato com alguém de algum outro setor da seguradora e da empresa e de alguma repartição e vai me retornar sobre o assunto. São 19h e sigo esperando o retorno. A mocinha nº 65 me retorna para pedir desculpas, senhora, pois realmente na apólice do seu seguro cobria R$300 e não só R$100 como constava no sistema, senhora, por isso o técnico estará na sua casa em cerca de 120 minutos, senhora. Ele infelizmente não tem como chegar mais cedo porque está distante, senhora, mas vai tentar chegar antes desse prazo, ok senhora? A mocinha nº 65 pediu muitas desculpas por todo o transtorno e agradeceu a minha compreensão.

O mocinho nº 456 chegou tipo depiladora que te distrai, saiu perguntando se eu era de São Paulo pelo meu sotaque, perguntou o que tinha acontecido enquanto tentava tirar molas de metal enroscadas em outras molas de metal e mais fios e muita quinquilharia que estava misturada no porta-malas do carro e de um jeito super engraçado até não me fez querer afogar ele junto com as molas no encanamento entupido. Ele enfiou 7m de molas no meu encanamento via ralo do box do banheiro e ligou o tal do róto-ruter, que na verdade era um motor que girava essa mola loucamente dentro do meu encanamento, e mandou ver. Enquanto ele ainda tentava falar comigo sobre Ratones, sítio, perguntou se eu frequento uma casa de software no Porto da Lagoa na frente daquela pizzaria Nave Mãe, não? Eu tinha certeza que tinha te visto de lá, tenho a sensação que te conheço de algum lugar. Não falei que pareço a Mallu Magalhães, mas ele também não parecia o tipo que conhece a Mallu se bem que todo mundo conhece então ainda bem que não falei nada. Ele deu até uma debochada de mim e perguntou se fui na Galeria do Rock, no Brás e na 25 de março lá em SP porque ele é de lá, bebia com Os Gêmeos porque trabalhava do lado deles e agora os caras andam de terninho e a professora dele no colégio antartica era coordenadora visual do Castelo Rá-Tim-Bum e ele era coordenador lá em SP, mas decidiu largar uma grande corporação e vir pra Floripa. Enquanto isso, Nina a gata ia curiosamente cheirar o mocinho nº 456 que na verdade se chama Henrique (acho que o único que sei o nome) e o róto-ruter lá, rodando sem parar e o Henrique enfiando mais a mola e forçando e eu abri todas as torneiras e a água tava parando de subir então quando ele tirou a mola do meu encanamento disse MIAU porque uma bola absurda de pelos, cabelos, fios e outros corpos-não-voadores-que-não-se-decompõe estava na ponta da mola, provavelmente os causadores de toda essa ladainha acima supracitada.

Fim. Henrique ainda ficou falando de SP, gêmeos, que não bebia Coca e que Soda é a pior coisa pra quando tá entupido o encanamento enquanto preenchia um papel dizendo que o procedimento foi realizado com sucesso, senhora. Tomei banho olhando pro ralo esperando a água voltar, algum problema acontecer mas nada. Nadica. Água nem se mexeu. Inclusive parecia verter pra dentro do encanamento.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

minha sina é viver esperando

Minha sina é viver esperando. Esperando o onibus passar, a hora chegar, seu nome chamar, a hora de acordar, o onibus passar. Esperando ser feliz, ter equilíbrio, ser maduro e responsável, os pontos cicatrizarem, a dor que não passa. Esperando a prestação chegar, o salário cair, o dinheiro acumular, as férias, poder viajar.
Esperando pra viver mais hoje, para ser mais agora, e ter mais presente. Esperando o momento certo chegar, a certeza chegar, o filho chegar, o marido chegar, os netos chegarem. Esperando pra terminar de ler, pra ver todos os filmes, pra série nova estrear. Esperando.
Esperando que amanhã seja melhor e que um dia tudo isso passe e sejamos recompensados. Esperando a luz voltar, a internet conectar, o congelador descongelar. Esperando os filhos crescerem, o marido adoecer, a saúde findar. Esperando o dia feliz, o momento recompensador. Sinto que vou morrer a vida esperando. Sinto que vou viver a vida caminhando.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Eu não sou sua amiga

A gente não compartilha gostos, sentimentos, medos, nada. Não me sinto à vontade contigo, não dou risada do que tu fala, me esquivo toda vez que você tenta puxar assunto. Não gosto de te cumprimentar, não gosto que você fale comigo, gosto menos ainda que você fale comigo falando meu nome, me chamando e principalmente usando um apelido que não existe: Cris.

Eu até simpatizo contigo, mas não divido meus sentimentos nem quero dividir. Eu não me importo se você não sabe o que sou ou não sabe muito bem o que esperar. Eu prefiro atravessar a rua e não quero te cumprimentar, sorrir amarelo e fingir que me sinto bem falando sobre qualquer assunto que não queria falar contigo.

Alguém disse que eu precisava manter esse mis-en-cene pequeno porque, sei lá, cohabitamos algum mesmo ambiente mas a verdade é que você tenta demais, né? Você se esforça. Você força, na verdade.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Sobre ser adulto


Quando eu era criança e queria mais que tudo ser adulta e independente, achava que ser adulto era ter menos medos, saber das coisas e depender de ninguém. Hoje, que sou adulta empregada faço parte dessa roda incrível do capitalismo limpo a casa e sei tirar manchas de roupas, sei que ser adulto não é isso. Ser adulto é acumular. Acumulam-se tristezas, frustrações, pensamentos, dívidas, calças jeans, plantas, ex-namorados, ex-amigos, livros emprestados e nunca devolvidos, rugas e cabelos brancos. Ser adulto é parecer saber responder mais rápido, mas na verdade demorar mais para achar no emaranhado de novelos de lã do nosso cérebro as respostas.

Infelizmente ou felizmente, a gente ocupa nossa pequena caixa cerebral a cada dia que passa com tudo, tudinho que fazemos (salvam-se apenas lapsos causados pela nossa querida vodka ou pela amada tequila e memórias que escolhemos por melhor esquecer sem ter certeza se um dia a gente vai precisar). A gente joga tudo na lixeira, mas a lixeira nunca esvazia. Ser adulto não é se livrar dos medos, como meu eu criança pensava, muito pelo contrário. É acumular medos, fundi-los, cozinhá-los bem em fogo baixo e banho maria por umas duas vidas inteiras e mais seis meses.

Por isso que ser adulto dói as costas. Porque a gente carrega muita coisa que não se desprende de jeito nenhum. Dói porque pesa demais mesmo e nossa mochila não está respondendo pelo projeto de lei 66/2012 que permite que as mochilas tenham no máximo 10% do nosso peso. Ninguém consegue se livrar das bagagens da vida. Suspeito que como adulta recente eu ainda não tenha aprendido a dissolver alguns nós e passar a limpo algumas histórias que com o tempo tendem a ficar mais leves. Talvez não seja todo mundo mesmo que consiga resolver e diminuir o peso de viver, por isso que temos os terapeutas e os tumores malignos.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Lucas


Eu bati o olho nele e meu estômago deu voltas. Nada de amor platônico exatamente, amor à primeira vista e essas coisas, foi uma atração mesmo. Mas aí sei lá, a vida é assim e a gente porventura troca de foco, principalmente quando descobre que nossa meia já tem um pé e eu desisti. Desisti, mas toda vez que batia o olho pensava "precisa ser tão lindo?". Foi só depois de mais dias que não cabem em um ano que ele começou a me achar tão linda também.

Foi pianinho que as conversas, os beijos, os abraços e os carinhos começaram a fazer parte dos meus cafés-da-manhã. Ele é o tipo que eu precisava, não o que eu queria pedir no cardápio. Ele é todo o açúcar que eu não coloco no meu café. Ele é o motivo de sorrir tanto. Ele é. Bem simples assim, como todo mundo dizia que seria quando fosse. Eu sabia que ele era e seria, e ele tá sendo.

E todo dia que abro a porta pra ele entrar me deparo com aquele sorriso aqui de dentro porque sei que não podia querer mais nada. Porque nunca vou esquecer das voltas que o estômago e o coração deram quando ele me pegou pela cintura naquele primeiro beijo que gente deu e que continuam a aparecer até hoje. E eu ainda não sei porque diabos ele precisa ser tão lindo.

Tá sendo o sorriso e os olhos de amêndoas que sorriem quando ele tá feliz. Tá sendo o cheirinho que me conforta, me faz feliz. Feliz de verdade, sem tormenta nem furacão. Ele tá sendo uma calmaria nesse coração vulcânico pela certeza que é recíproco.

Eu amo chuvisco abraços sorrisos muito demais enormemente ele Lucas.

6 coisas aleatórias de ano novo



1. Ter o mesmo número em roupas e cabides.

2. Iniciar, começar, rabiscar, me envolver no mestrado.

3. Mudar para ter um sofá e uma sala.

4. Ler mais, melhor e mais objetivamente (ou puramente por lazer mesmo).

5. Parar de usar desodorante com alumínio.

6. Aprender a (re)organizar e (res)guardar dinheiro.